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Videodança – Tropeiro


Tropeiro é uma palavra de herança castelhana (tropero) que nomeia aquele que conduz tropas de bois, cavalos e mulas pelos extensos territórios do Brasil e da bacia do Rio da Prata.

A videodança TROPEIRO, baseada nas danças praticadas por estes tropeiros-peões-cavaleiros (principalmente catira e chula gaúcha) visita as memórias dos corpos nômades que, após longas jornadas, em suas pausas, dançavam. Propõe olhar um momento solitário de descanso em que o peão tropeiro dança, à luz do fogo, desafiando-se a si mesmo. UMA DANÇA que é DESCANSO e pulsão. Diversão, desafio, encanto e reconexão com o corpo, que é memoria e casa em trânsito.


FICHA TÉCNICA

Concepção: Ivan Bernardelli

Direção de Arte: Mônica Augusto

Bailarino: Ivan Bernardelli

Viola caipira: Domingos de Salvi

Filmagem: Mônica Augusto

Edição: Ivan Bernardelli

Composição musical e trilha Sonora: Domingos de Salvi

Cenografia: Ivan Bernardelli

Iluminação: Mônica Augusto e Ivan Bernardelli 

Produção: Cia.Dual

Sobre os tropeiros

A partir de 1732, quando peões passaram a levar regularmente tropas de animais dos pampas e campos do sul do Brasil até Sorocaba, no atual Estado de São Paulo, o designativo tropeiro, usado com freqüência nas vacarias do Uruguai, se firmou para nomear aqueles homens habilidosos em escolher animais, negociar preços, compor um grupo capaz de lidar com as tropas de bois, cavalos e mulas e, além disso, enfrentar as difíceis e demoradas marchas pelos caminhos do sul, partindo dos Campos de Viamão, no atual Rio Grande do Sul, em direção ao norte, às Minas Gerais. 

Os extensos deslocamentos pelas estradas, a pé ou a cavalo, transpondo rios e serras, requisitava uma intensa força física. Quando os tropeiros paravam para descansar entre as longas jornadas, nos ranchos e estâncias assentados pelo caminho, o exercício de bater os pés no chão lhes servia para relaxar a musculatura das pernas, assim como o bater das palmas das mãos relaxava a musculatura dos braços. Bater palmas e pés: eis o eixo de composição das danças do catira e da chula gaúcha, compostas por variações de sapateados e palmas ao som de modas de viola.

Música

Neste trabalho de dança, a trilha sonora composta e executada pelo violeiro Domingos de Salvi é baseada nas melodias das modas de viola e nos acentos rítmicos do catira, e também estabelece variações experimentais que se aproximam de uma linguagem mais subjetiva. Confere humanidade ao tropeiro, figura de longas jornadas repletas de histórias e memórias, assumindo a dimensão do sujeito, uma dimensão humana. Com base nos exuberantes sapateados e na demonstração de habilidades virtuosas, a dança e a música recolocam o tropeiro na sua medida humana, passível de paixões e medos. Alem disso, no arranjo feito especialmente para este trabalho, a música permite à audiência identificações com sonoridades de raízes e tradições caipiras.

Iluminação e cenografia

A iluminação, concebida por Ivan Bernardelli e Mônica Augusto, é toda realizada com fogo, por meio de velas e fogueira. Junto à cenografia, concebida por Ivan Bernardelli, que propõe uma varanda ou um lugar de pouso, estabelece a sensação do pouso da tropa, que descansa nos estábulos. A pausa do corpo, à noite, no entanto, permite que os pensamentos ora se assentem e ora se agitem. 

O trabalho dialoga ainda com os símbolos do fogo e dos copos de água, associados às práticas culturais de povos das diásporas africanas: boiadeiros, tropeiros e carrinheiros facilitavam o trânsito de informações entre senzalas e quilombos nos territórios do Brasil e do Rio da Prata, mantendo uma rede de trocas materiais e simbólicas entre os diversos territórios do Brasil. Ao mesmo tempo, os copos estabelecem o desafio do sapateado, substituindo as lanças e cordas dispostas no chão, geralmente utilizadas na dança da chula gaúcha.